Estação Férrea do Riacho - 1900. Esta fotografia foi tomada em um domingo. Observa-se o intenso movimento de passageiros na estação. Aos sábados e domingos o número de viagens para a Tristeza aumentava bastante, pois esta região era destino para veraneio. (Foto acervo Porto Alegre uma História Fotográfica.) — em Porto Alegre, Brazil
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Professor Pedro A. C. Teixeira noreply-comment@blogger.com
Cabungueiros e seus Cabungos
Hoje a população não sabe, nunca ouviu falar e nem imagina o que foram os “cabungueiros” ou o que foi um “cabungo”
No fim do Império, no Rio de Janeiro havia os chamado tigres, escravos que carregava baldes e barris cheios de dejetos humano sobre seus ombros, que eram levados e jogados ao mar.
Excrementos de uma corte simplória, fedida e como o povo também mestiça seguida de pequena elite semianalfabeta, bajuladora e também fedida, que obrigavam homens escravizados a carregarem suas porcarias, pois não havia rede de esgoto.
Lembrando que o Rio de Janeiro, quando aqui chegou fugindo da Guerra de Napoleão a família real em 1808 fedia pior que uma carniça. Era um esgoto a céu aberto. Era uma cidade imunda, fedida e pestilenta.
Eram esses homens chamados de tigre, pois as porcarias humanas que escorriam desses recipiente deixavam em seus corpos famélicos listras de fezes, o que o levou a serem comparados a tigres.
Porém ainda no fim dos anos cinquenta, início dos sessenta do Século XX, nas cidades de Pelotas e Rio Grande o serviço continuava a todo vapor, agora feito por homens livres.
Havia nas regiões mais abastadas banheiros com louças ligadas a um esgoto cloacal arcaico que simplesmente levava as fezes humanas sem nenhum tratamento para os rios. Rios de onde sairiam a água de beber.
Nas regiões menos agraciadas, onde morava a esmagadora maioria da população, tanto nas cidades quanto no campo o que se usava era as latrinas.
Entretanto nas latrinas mais modernas, essas junto às cidades em bairros populosos, não havia o célebre e profundo buraco cheio de estrume humano e sim o histórico e valoroso “cabungo”, que na cidade portuária de Rio Grande era chamado de “cubo”.
O cabungo ou cubo era um pequeno barril cônico de madeira de aproximadamente cinquenta centímetros de altura, com a boca de mais ou menos vinte e cinco centímetros, chegando a sua base com trinta e cinco centímetros, que semanalmente era substituído pelo Asseio Público, que os levava em carroças puxadas por cavalos percherons, melhor alimentados que os pobres e desgraçados homens que tal serviço faziam.
Levavam o cheio e deixavam um limpinho, embebido em alcatrão ou óleo bem escuro misturado com um pouco de creolina.
Anos depois em Pelotas essa carroças foram substituídas por caminhões pequenos. Lembro-me de um Ford verde que atendia o fragata.
Tais barris eram feitos em tanoarias especializadas aos milhares para poder suprir a demanda de uma grande população, pois vilas e bairros inteiros eram assim atendidos.
Em Pelotas os chamados cabungueiros, homens que transportavam os cabungos, retirando os cheios de fezes e levando-os para as carroças, que depois de recolherem iam para as margens do canal de São Gonçalo, onde despejavam e lavavam esses barris bem próximo de onde atracava a balsa, no final da Rua Tiradentes que fazia a transposição de raros caminhões e automóveis de um lado para outro do canal, erradamente chamado de rio. Essa balsa era o meio que ligava Pelotas a isolada Rio Grande.
E todo esse trabalho imundo, fedido e altamente contaminante, onde vicejava as doenças era feito sem nenhum equipamento de proteção.
Descalços, mal alimentados, pessimamente remunerados, carregavam as sujeiras de toda uma população, com suas calças e camisas velhas cheias de remendos e de fezes. Cheios de doenças e de vermes que dilaceravam suas vidas, que por esse comprometimento eram velhos e alquebrados aos trinta e poucos anos.
Eram considerados por muitos como sendo a escória da humanidade, pois além das doenças que carregavam em seus corpos famélicos e valetudinários, cheiravam tão mal que as pessoas evitavam até de olhá-los, com medo de pegarem suas doenças e principalmente nojo.
Por onde passavam deixavam um rastro de mau cheiro e muitos cabungos, cheios até a boca, muitas vezes deixavam outro rastro nos pátios, por onde eram carregados. Um rastro das porcarias humana que como nenhum outro animal tem as mais fedidas fezes.
E assim mesmo, cheirando pior que qualquer outro animal, tem a extrema veleidade de se dizerem divinos, filho de um deus, com o poder por esse dado de reinar sobre os animais.
- Que hipocrisia.
- Que pretensão.
Pretensão que beira a demência.
Pobres cabungueiros.
Seres explorados vilmente em um trabalho sujo, duro e desumano, mas mesmo assim alguns eram gentis e gracejavam de seu próprio infortúnio.
Infortúnio cruel que os aniquilava. Outros sequer falavam, eram homens amargos, tristes, mas todos tinham o mesmo futuro, o de morrerem jovens ainda, mas de aparência extremamente velha, pálidos ou de um amarelão que dava medo. Vidas carcomidas, cheios de vermes que os corroíam em suas desgraçadas sagas.
E dizem os simplórios que deus é fiel.
Dizem os insanos que deus é bom.
Que deus?
Muitas vezes se estava usando a latrina, bem sentado no banquinho de madeira sobre o cabungo, quando de repente um funcionário do Asseiro Publico abria a portinha dos fundos da latrina e trocava o valoroso barrilzinho, que era puxado por um ganho de ferro já munido de uma tosca tampa que nada tapava, sem ver quem estava sentado obrando.
Levava-se um enorme susto, mas a obra continuava agora em um cabungo limpinho e cheirando a óleo e creolina.
Texto extraído do livro ainda sem título de minha autoria sobre minhas memórias que pretendo em breve editá-lo.
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